Hilda Reis de Paula
Talvez você não conheça esse nome, ou não saiba de quem estou falando, nem o que essa mulher realizou na vida.
Há muitos anos, tive o orgulho e a honra de ser alfabetizado e direcionado na vida por essa nobre, muito nobre senhora.
Lembro-me dos seus olhos escondidos sob um par de óculos grandes e arredondados. Seu rosto, envolvido em uma moldura negra de cabelos cacheados. Seu caminhar na sala de aula mais parecia um desfile de damas da alta corte europeia, apesar de sua estatura pequena. Seu tamanho nada tinha a se comparar com o seu coração: imenso, amoroso e cheio de carinho para nos dar sem nada cobrar. Gritou muito pouco, pois sua moral era tão grande que seu silêncio doía em nossa companheira alma.
Éramos crianças entre dez a treze anos, sendo o último o meu caso, pois eu vinha reprovado de séries anteriores. Havia outros na sala que traziam uma história triste, como a minha de migrante nordestino portador de uma doença incomum, a Síndrome de Tourette. Acolheu minhas esquisitices como quem tratava um pássaro nas mãos, seus afagos inesperados eram como um comprimido calmante. Mantinha-me, com toda a minha hiperatividade, sob controle generoso e paciente. Sorridente, quando besteiras eu falava em dúvidas das matérias, devolvia-me seriamente, para que eu não me perdesse do sentido dos estudos que nos letrava com amor igual para todos.
Nossa classe não era a melhor e nem a pior da escola, mas, com certeza, era a mais querida de todas. Hoje eu dedico a você, materna professora, que a vida tenha a acolhido com a mesma ternura que nos dispensou. A você, dona mãe querida Hilda, dedico minhas modestas letras cantadas num canto de orgulho e de saudade.
Muito obrigado, querida Hilda Reis de Paula, professora inesquecível da minha terceira série do primário. Jamais te esquecerei.
Que Deus te abençoe onde quer que esteja!
José Sandoval